A cidade como espaço de solidariedade

Em uma sociedade marcada por inúmeras formas de exclusão, construir uma sociedade que seja justa e solidária, se torna um desafio latente. Pensando a partir dessas ideais, a construção de espaços públicos de convivência é um dos caminhos para que a população possa estabelecer laços de comunicação e vivenciar a cidade, não sem razão, Vitória apresenta um panorama interessante que congloba em sua paisagem diversos espaços que demonstram essa ideia.

Embora esses espaços façam parte do cotidiano do capixaba, outros fatores mostram-se como desafios para a sua ocupação, que vai desde a percepção do risco, como a questão da acessibilidade e do próprio interesse em conviver com pessoas de diferentes classes sociais.

O fato de termos na cidade pessoas com formas de vida diferentes não pode se mostrar como um obstáculo para a sua convivência, é natural a estranheza que temos ao depararmos com o “outro”. Entretanto, mais do que essa percepção de diferença, precisamos entender a importância do estabelecimento dos laços de solidariedade como forma de superarmos desafios coletivos.

Nesse processo, ousamos a descobrir a importância do cuidado mútuo e da responsabilidade social que temos de um para como os outros, não precisamos viver de forma isolada suportando muitas angústias.

A nossa percepção, em muitos casos, causa um olhar de reprovação e medo, não que esse fato, em alguns casos não demonstre prudência, sobretudo, quando não se tem a certeza de que é possível uma aproximação. Ocorre que, em decorrência de um “pacto de terror” encapado pelas noticiais midiáticas e falácias rotineiras, temos cada vez mais nos tornado individualistas, sem o menor interesse em dar voz ao outro.

Talvez uma das formas mais comum de observamos que estamos alheios ao sofrimento e compreensão do outro, é quando perguntamos como você vai? dai almejamos que a resposta sempre seja: vou bem. Basta uma simples interrupção na rotina da vida para pensarmos que houve um percalço sério no nosso dia.

Precisamos mais do que pensar na empatia como uma palavra bonita, colocá-la em prática em nossa rotina cada vez mais tragada pelo imediatismo e interesses pessoais. A ideia de uma sociedade solidária vai muito além do que simplesmente achar que devemos doar aquilo que não precisamos e alimentar aquele que necessita, todas essas ações são extremamente relevantes, mas elas não devem ser consideradas como fundamentais para uma sociedade justa, é preciso ir além e, nesse caso, precisamos formar cidadãos que reflitam a respeito da sua própria realidade, contribuindo com ações e cuidado, isso vai desde a questão ambiental, quando compreendemos a utilização dos recursos naturais, que sem a devida medida irá contribuir para escassez, bem como por estacionar na vaga do deficiente ou furar a fila do idoso.

Todos esses aspectos vão entrelaçar a ética com a justiça social, à medida que fomentarmos ações que possam contribuir com um mundo mais justo. Neste cenário, será ledo engano da nossa parte entender que apenas o Estado será capaz de resolver todas as mazelas sociais, precisamos de uma sociedade que seja pujante em suas ações, que faça de uma ideia de mundo melhor o seu lema.

Para muitos, na esperança de uma nova terra, não precisamos cuidar da nossa casa aqui, mas isso não pode ser verdade se pensarmos que estamos cada vez mais fartos dos nossos próprios problemas, criados a partir de uma dificuldade de se relacionar como o outro, talvez isso ocorre pelo fato de que, à medida que relacionamos com o outro, encontramos nossos próprios defeitos, o que nos leva a compreensão de que somos incapazes de suportar. Para isso, não existe receita pronta, é necessário a mudança de hábitos que não sejam saudáveis, tornando o nosso dia mais aprazível e cuidando das nossas relações interpessoais.

Certamente a rotina vai continuar a sua dinâmica natural, mas não precisamos ser ríspidos no tratamento, refutar qualquer experiência de compreender o outro e, especialmente, sempre se colocar no seu lugar. Sendo assim, quando nos propormos a fazer diferença com base nas nossas experiências rotineiras, no nosso local de trabalho, na rotina familiar e até no trânsito, conseguimos conseguir construir uma cidade menos conflituosa e mais harmônica, pois demonstra cidadãos maduros o suficiente para entender da importância do cuidado do outro. Para além de um pensamento de uma cidade utópica, se não houver uma mudança de pensamento, nada muda, precisamos pensar que muitos conflitos podem ser resolvidos através do diálogo e muito possivelmente estamos perdendo a capacidade desse belo artifício, o que nos restou foi clima de sempre animosidade e ataques, as redes sociais facilitaram a nossa possibilidade de colocar o “animal” para fora, então basta apenas uma palavra mal falada ou um pensamento que não coaduna com os nosso, para iniciarmos as intrigas.

Triste será se não revertermos esse quadro, teremos cada vez mais um judiciário sobrecarregado e em muitos casos ineficaz, solucionado questões que seriam da nossa responsabilidade. Precisamos parar de delegar as nossas responsabilidades para que outros possam solucionar, nem mesmo a boa convivência com a vizinhança estamos conseguindo realizar, sempre encontramos algo que nos incomoda muito além daquilo que poderia dar continuidade a nossa paz.

Pensar numa cidade perfeita é desconhecer a possibilidade de que nos deparamos com situações adversas que nos tiram do sério, mas, por outro lado, deixar de difundir uma cultura de paz, é naturalizar a convivência com conflitos e tornar a nossa passagem por essa terra mais desgastante.

Esse convite para uma construção coletiva de uma cidade que seja solidária deve fazer pauta das nossas agendas, fomentada por ações estatais e que sejam capazes de diminuir os conflitos e aumentar o prazer em vivenciar a cidade, com a convivência nos espaços públicos, os passeios nas áreas de lazer, adequando a ideia de que a cidade deve ser planejada para que tenhamos essa possibilidade e que não seja excludente de qualquer indivíduo, pois se assim não for, certamente não teremos a percepção de que estamos evoluindo.

Que o Brasil, o estado do Espírito Santo e, especialmente, Vitória, sejam ambientes repletos de espaços de solidariedade, contribuindo para um mundo mais justo e menos desumano, transformando a nossa realidade social.

Ricardo Matos de Souza

 

Texto: Assessoria Parlamentar

Data de Publicação: segunda-feira, 21 de outubro de 2024

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