Cidades: incubadoras de novos formatos sócio-culturais e econômicos

No Brasil, a intensificação do processo de globalização, a partir da segunda metade do século XX, inaugurou uma série de modificações nos espaços urbanos. Com os avanços tecnológicos, atividades predominantemente comerciais assumem o eixo produtivo, e, de forma gradativa,  as cidades criam mecanismos de adequação à nova ordem.

Hoje, século XXI, a cidade está no bojo das novas transformações sócio-culturais e econômicas. Estudo publicado na segunda quinzena de dezembro de 2008 pela Comissão Européia (CE), e realizado em conjunto com o Banco Mundial, revela que 95% da população mundial se concentra em 10% da superfície terrestre, nos núcleos urbanos.  No ano 2000, o mesmo estudo aferiu que mais da metade da população do mundo já vivia em cidades.

A comissão afirma também que as cidades são fatores que influem de maneira decisiva sobre as economias nacionais ao serem fontes de emprego e facilitarem o acesso à cultura, à educação e à assistência sanitária.

O protagonismo do desenvolvimento local, referenciado por uma visão integrada de mundo, deu início a essa fase, que é seguida pela centralidade produtiva de consumo de bens e serviços sociais, econômicos, culturais e ambientais na cidade. Nessa perspectiva, a sustentabilidade é um tema ainda polêmico e de lenta implantação, pois a adoção de estratégias de uso e consumo mais sustentáveis é o grande desafio para os centros produtivos. A assinatura de Termos de Ajuste de Conduta é uma boa iniciativa nesse sentido, entretanto a urgência de estudos que indiquem a adoção de uma nova matriz energética que substitua o petróleo e o difícil contágio social denunciam a predominância dos interesses econômicos.

Poder local

Vale aqui destacar a reformulação que envolve o poder local, condicionado por demandas da globalização, antes com suas atividades circunscritas à prestação de serviços, agora passa a atuar como agente de fomento  ao desenvolvimento local.  Sua relevância se dá pela capacidade de engendrar ações integradas entre governos e sociedades, em busca de novas formas de gestão de recursos, sejam eles humanos, tecnológicos ou financeiros.

É coordenando e orientando políticas públicas que criem um ambiente urbano solidário, no qual a convivência e o bem-estar social garantam aos cidadãos o direito de acessos às oportunidades, geradas pela nova configuração urbana, que o poder local poderá reduzir as desigualdades, situações de risco e marginalização da população.

Esse é, sem dúvida, o ponto central nesse processo de protagonismo, pois é fundamentalmente com parcerias sociais e econômicas que poderemos chegar à colaboração necessária para um desenvolvimento sustentável adequado. 

Neste cenário, o conhecimento tem grande peso, afinal a festejada "Sociedade do Conhecimento" tece redes de informações e conhecimentos, via fibra óptica, por meio da transmissão de dados que criam o arsenal ideal para as revoluções cotidianas. Assim, oportunizar acessos e colaborar para a formação de cidadãos atuantes, nos diversos segmentos sociais, ressignificados a partir do contato com as  Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), é o ponto alto dessa trajetória rumo a uma outra ética.

A rede de cooperação ultrapassa limites territoriais e transforma cidades em "nós", como os das redes tecnológicas, que desenvolvem a interação e cooperação em níveis locais, regionais, nacionais e internacionais. Tais mecanismos só melhoram e fortalecem a governabilidade, ampliando os processos democráticos e ressaltando a cidadania como finalidade.

Luciano Rezende (PPS)