O “homem” e o “ser” social

Todo o ser humano nasce "dentro" de uma complicada trama de costumes, linguagens, sistemas relacionais e instituições, conjunto que pode ser chamado de cultura. Cada indivíduo incorpora então os valores, crenças, língua de seu grupo social de pertencimento. É através desta lente cultural que enxergamos o mundo. Há uma profunda dependência entre os seres humanos, uma vez que não nascem como um "animal social". Desde modo, descobre a dialética entre a necessidade e possibilidade. Dentro desse contexto, só atingimos a plenitude humana, graças ao desenvolvimento máximo da criatividade, pois ela é a ferramenta humana para conectar as várias possibilidades, às necessidades sociais. Partindo desse pressuposto, olhamos para o status social feminino, como passivo de inúmeras melhorias, mas que não reagem na velocidade que nossas necessidades demandam, o que nos faz buscar criativamente as “possibilidades” aceleradoras desse processo evolutivo.
 

A título de exemplo, o lugar da mulher é muito distinto em função da época e do lugar. No fim da antiguidade, eram diversas as situações em que a figura da mulher representava superioridade à masculina. Em variadas culturas antigas, a mulher aparentava ser capaz de realizar certos encantamentos e receber favor das divindades. Comunidades como a Grega, dividiam o altar politeísta entre homens, mulheres e até mesmo em não-binários. Por meio do olhar do cristianismo primitivo, pode ser notado que a participação feminina era importante no desenvolvimento histórico da religião, tendo como Maria, mãe de Jesus, a imagem da mulher pura e santa, modelo a ser seguido. O próprio Messias reconheceu, ao perdoar Maria Madalena, que todos deveriam olhar para si mesmo antes de atirar as pedras e pensar sobre seus pecados, independentemente de serem homens ou mulheres. Ainda pensando no caráter religioso, nas religiões afro-brasileiras, o sexo feminino parece ocupar uma posição de maior destaque em comparação às outras religiões. A centralidade do feminino nessas religiões é contrária ao que historicamente predomina nas sociedades ao redor do mundo, onde os homens dominam a produção do que é “sagrado”. Essa diferença é explicada pelo processo de libertação dos escravos brasileiros, no qual foram elas as primeiras a obterem a alforria e alcançarem independência econômica ao inserirem-se no mercado de trabalho. Por outro lado, no Islã, as meninas são proibidas de ir à escola e condenadas ao analfabetismo. Quando adultas, sua única obrigação é seguir seu marido, sem poder trabalhar ou andar nas ruas sozinhas. Não podem dirigir ou aprender qualquer ofício que seja considerado “masculino”.
 

Na sociedade brasileira e principalmente na capixaba, ainda que evoluindo, nos relegam uma herança maldita no que diz respeito às mulheres. Permanecemos como um dos países mais violentos do mundo para as mulheres.

- Uma em cada três mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano.

- 503 mulheres são vítimas de agressões físicas a cada hora.

- 22% das brasileiras sofreram ofensa verbal no ano passado, um total de 12 milhões.

- 10% das mulheres sofreram ameaça de violência física.

- 8% sofreram ofensa sexual.

- 4% receberam ameaça com faca ou arma de fogo.

- 3% ou 1,4 milhões de mulheres sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento.

Com a evolução da sociedade, estamos vivenciando o momento mais abrupto, desse encontro de placas tectônicas, um verdadeiro terremoto social, onde a mulher deixa seu estereótipo doméstico e passa a construir uma nova imagem, ocupando, por muitas vezes, o suposto lugar masculino. O despreparo em lidar com isso vem de anos de paradigmas errôneos que foram entalhados no inconsciente popular. São filhos que se acostumam a ver a mãe como doméstica e o pai como o operário, o ordenador de despesas. É a filha que é direcionada a brincar com panelas, cuidados com bonecas, entre outras. Signos de reforço daquilo que não necessariamente estarão presentes na idade adulta contemporânea, mas que reforçam o comportamento tido como “socialmente correto”. O homem cria cultura, primeiro porque tem necessidade disto; depois porque descobre as possibilidades de ultrapassar os escravizantes limites da necessidade.

Não necessariamente somos obrigados a manter essa herança cultural, esse legado não é imutável, pois temos energia e criatividade para transformá-la e melhorá-la coletivamente, podendo assim dizer que não o homem e ou a mulher, e sim o ser humano, são pais e filhos de suas próprias obras.

 

Wanderson Marinho (PSC), é vereador de Vitória 

Data de Publicação: segunda-feira, 05 de agosto de 2019

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